Samba de Inverno

Postado por NaNa Caê sábado, 31 de dezembro de 2011 02:44:00

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É difícil amar uma pessoa de modo fácil. Você pode se confundir e não achar verdadeiro. Nos livros sempre é complicado quando a paixão é duradoura e se transforma em para sempre. Nos filmes parece sempre ter que existir batalhas pelo estar próximo ao outro.

É difícil amar uma pessoa de modo fácil. Você pode cometer exageros ao tentar surpreendê-la, se passar por demente, lunático ou aparentar ter alguma psico-patologia-qualquer. Enquanto ela só queria seguir a rotina, te beijar noite e dia e quando se sentisse entediada, você a beijar dia e noite.

É difícil amar uma pessoa de modo fácil. Você pode se transformar em soro, aparentar ser sem sal, sem açúcar, insosso. Parecer necessário só quando o outro está caído, fraco. Se tornar uma reanimação quase profissional, médica, com direito a respiração corpo-a-corpo.
 
É fácil amar uma pessoa de modo difícil. Você sabe que a possibilidade de planos se concretizarem é remota, utópica. Mas doces que nem Romeu e Julieta com goiabada extra. E então para não morrer desnutrido, come 6 refeições diárias, só da sobremesa. No fim bate as botas, na própria cara, de diabetes e se vê ali com a boca cheia de formigas.

É fácil amar uma pessoa de modo difícil. Gostar de alguém não é complicado. Viver sob a lógica de  carregar a vida do outro nas costas e dar a sua pra alguém também levar que é assustador. Ninguém simplesmente sai de um útero emanando o coro do quero-ser-burro-de-carga-de-alguém.

É fácil amar uma pessoa de modo difícil, difícil mesmo é amar uma pessoa de modo fácil, por um longo tempo.

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[Ouvindo: Caetano Veloso - Odeio]

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A(-)Parte Que Faltava

Postado por NaNa Caê segunda-feira, 19 de dezembro de 2011 21:58:00

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Destino esquerdo que o marca
Com malícias e sumiços
Destino direito era manco
Ou nunca existiu (?)

Destino volver que o fez arrastar
Por estradas sua cara empoeirada
Amaciando bochechas em cascalhos
Riscando dentes com pedrinhas

E mesmo que desse corda aos relógios
Transplantasse pedaços do coração para eles
Não diriam o que por ali já aconteceu

E mesmo que conseguisse camas a sua altura
Sentiria os braços caírem à noite
Tocando o chão

Servindo de ponte
Para seu tronco moreno amadeirado
E o comeria feito raiz doce de verniz

Devia ser agouro do pai judeu
Fugitivo, agora carpinteiro

Devia ser sorte da mãe brasileira
Autêntica puta faceira

Devia sorte demais por ter nascido vivo
Em meio a um curral de burros tão inteligentes

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[Ouvindo: Lykke Li - I'm Good. I'm Gone]

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Mortandade Aérea

Postado por NaNa Caê 21:40:00

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Havia um cemitério em cada cômodo
Em cada círculo valas flutuantes
Quando escurecia se acendia o fogo
Que esquentava o corpo

Atraídos pela claridade
Aproximavam-se drogados de luz
Pra cada luminária
Enchia-se novamente de insetos

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[Ouvindo: Lykke Li - Let It Fall]

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Vessiê

Postado por NaNa Caê sábado, 5 de novembro de 2011 13:49:00

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Os galhos cresceram
Como se precisassem escalar os céus
Eram 20 ramos para 5 blocos de azul
Não soube contar
Consequentemente desconhecia dividir

Cada ramo subiu desordenado
Como seu cabelo depois de lavar
Tangendo o que aparecesse pelo ar
Se os asfixiassem com vapor quente cairiam
E novos brotos famintos levantariam da terra

As folhas sufocaram as nuvens
Como se quisessem se tingir
Chuva e prismas foram ignorados
Inventou-se um novo fenômeno óptico
Achava que compreendia todas as leis naturais

Do azul da prússia com o verde o que daria?
Musgo
Mofo
Ou um possível bolor chuvoso?

A árvore quer ser pássaro
Mas suas folhas custam a planar
E o verde quando cresce mal sabe do marrom-morte
Que o aguarda no chão

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[Ouvindo: Radiohead - Kid A]

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Desmembrando Passos

Postado por NaNa Caê quarta-feira, 19 de outubro de 2011 16:18:00

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O homem precisa de uma memória melhor pra lembrar dos erros que todos já passaram e não dar de cara com eles num labirinto.

O homem precisa não apenas pedir, ouvir e deixar entender depois conselhos. É necessário pulso firme pra andar de quatro, suportar o peso do próprio corpo enquanto obrigam-no a rastejar.

O homem precisa relevar os seus interesses e se preocupar mais com as vontades, Schopenhauer não estava brincando apenas de poesia sem rima.

O homem é preciso nas suas súplicas, mas disperso no caminho das soluções, a cada estrada adentra correndo como se não houvesse o que perder. Pés, pernas e joelhos em armadilhas, corpo inteiro em areia movediça.

O homem é mentiroso no amor e na euforia sentimental. Ao nascer fatia o coração em centenas de porções, é mais seguro dar cubos do peito a várias paixões resolvidas do que tudo pra um possível amor.

O homem não precisa de ninguém, se sustenta sozinho, olha no espelho e se devora, mas esquece que está comendo seus próprios nervos, antecipa sua morte como ser.

O homem não precisa de verdades, ganhou uma caixa cheia delas logo ao nascer. Quando é do seu interesse distribui uma ou duas como lição de moral, experiência já madura de vida.

O homem não está nem aí pra o que você sente, canta ou escreve, a não ser que ele se identifique, sofra do mesmo humano-caminho-clichê.

O homem não é lobo, parece mais um monstro que se disfarça de cachorro, finge ser amigo, mostra carinho falso, verdadeiro, o que melhor gerar um clímax pra uma trágica posterior dor.

O homem talvez não seja um, mas sim dois, dançando juntos a valsa das máquinas e outras danças amargas, sob o ritmo de enxadas que cortam pés que desejam ir longe demais.

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[Ouvindo: Arctic Monkeys - 505]

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V. G.

Postado por NaNa Caê segunda-feira, 17 de outubro de 2011 18:47:00

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Consolar a mortalidade é encontrar um local onde possa destruir a si mesmo sem arrependimento, drenar a mente transbordante de orgulho e desumidecer o verde áspero cheio de enxofre.

Sob um mapa cínico de sofrimento pego toda sujeira do chão e a como. Engulo suas pegadas como um pedido de volta. Engulo seus rastros porque é isso que me faz melhorar. Não posso começar de novo com você por perto.

Com minha maturidade arrogante exorciso ciúmes, domestico alergias a expansões mentais.

Estou tentando me recuperar como quem pula em direção à água fria e no ar se arrepende, sabe que precisa voltar para não morrer congelado. Mas como pausar o corpo e dar continuidade ao tempo até o rio secar?

Estou absorvida em um plano imerso que me dificulta enxergar o mesmo que você. Estou diametralmente oposta, misturada à asfixia de uma sólida e retorcida parede, pesando sobre mim.

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[Ouvindo: Madeleine Peyroux - No More]

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Imbuindo

Postado por NaNa Caê sábado, 15 de outubro de 2011 09:15:00

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Você explicou como funcionava cada órgão meu com as mãos, eu não soube lidar com os sintomas, as contrações de amor, pulsações mais rápidas do coração. Tornei-me contorcionista de chão, quando se afastava me retorcia lambendo azulejos e poeira, não importava mais se eram limpos, se estava no banheiro ou no quarto-sala-tudo-nosso. Aproveitei e inundei os cômodos de choro, me esforcei e lavei, mandei embora o que na verdade eu sabia que futuramente não iria suportar. Sequei gota por gota com o cabelo. Nenhuma mecha foi poupada, espremi até sair o último pingo de sal.
Comi batons na ausência do café, almoço e jantar, comi você na esperança que sobrasse mais tempo para nós. Restou-me a lembrança de sucos amargos amenizados por sacas de açúcar, mais acerbos ainda. Não sei o que foi pior.
As formigas me devoraram, não de uma só vez, não eram tubarões. Piscava e me levavam o estômago, uma mão, não lhe dei tchau, pisquei, comeram meus tímpanos, você sorriu pra mim, pisquei, comeram meus olhos, bati na mesa, nos copos, derramei o derretido gelo, bati em você, depois em mim, por dentro, encontrei paredes quentes, achei que não conseguiria mais sair dali, corri, porque é nisso que sou boa, em ser leve por aí, pisquei, já não sei se elas devoraram meu coração ou você o levou de mim.

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[Ouvindo: Cat Power - Blue]

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Conte Comigo, Até Três.

Postado por NaNa Caê 08:57:00

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1.
Vejo em seus olhos pontinhos claros, velhos, secos, como árvores despedaçadas pelo tempo, pelo vento, por nós torcendo caules durante madrugadas. Vejo em seus olhos três pontinhos, que nos permitem não pararmos por aqui.


2.
Não acredito que vou dormir mais uma noite sem você, não acredito em muita coisa que já falei por aí, mas todas que eu disse pra você eram verdade e continuarão a ser.

Mesmo que eu não esteja, mesmo que eu não seja tudo aquilo que a gente tentava crer.


3.
Não há o que esperar quando se abandona alguém de verdade, sem a possibilidade de uma cena teatral ou um até a próxima vez. Não há o que se ter quando se doa tudo o que aprendeu. Não há o que se desejar quando muito daquilo já se teve.

Não há você e eu juntos, sobrou apenas restos de pedaços meus e seus por lugares, filmes não vistos e livros indicados.

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[Ouvindo: Beatles - Something]

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Há Que Se Entender

Postado por NaNa Caê 08:43:00

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Quantos cigarros você acha que seriam necessários pra esquecermos todos os desequilíbrios? Quando não é você errando sempre aparece alguém pra cumprir seu papel de infrator. Não há o que sustente sua paz, você bem sabe que precisa de tudo de pernas pro ar, assim é mais fácil foder a vida, não existe aquela necessidade chata de ficar gastando os músculos, causar contusões, convencer através da força pra ela te dar sem gritar, contar pro irmão mais velho, o pai e depois sofrer com a sua cabeça sendo cortada com a faca de mesa da mãe.

Você sorri, claro, é educado, tenta se vestir bem, mostra qualidades, os defeitos escreve em cadernos e depois queima cada folha chorando, como se colocasse fogo em seus próprios membros. Porque não ateia fogo em si mesmo? Se é tão bom em suportar e fingir, vamos fazer de conta que é alguma muçulmana suicida. Exploda seu crânio junto ao botijão, se destrua primeiro antes que estrague a vida de mais alguém.

As pessoas te olham torto na rua como se conseguissem torcer seu pescoço só de te ver passar, você torce pra que elas te esqueçam, não tem como cobrir os cortes na cara de raspão, todas acordam e já vão escovar os dentes, encaram no espelho as cicatrizes que você criou.

E as suas? As transplanta também pra poemas cheios de metáforas bonitas e depois os engole? Da descarga ou enterra no jardim? Seu cachorro não aguenta mais cavar o gramado, enfileirar as desgraças que você fez. Comece a esquecê-las na gaveta como suas coleções antigas, já que pra você são apenas dores passadas.

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[Ouvindo: The Dead Weather - Treat Me Like Your Mother]

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Nada é Preciso

Postado por NaNa Caê 08:23:00

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É preciso se justificar não apenas nos atos, mas também perante silêncios, ausências ou na própria escrita.

É preciso o modo como a raiva chega contaminando as veias dos olhos, as fazendo latejar, vermelhas.

É preciso que se levante a cabeça, bata no peito feito macaco-alfa e urre os seus quereres.

É preciso que durma, feche os olhos pelo menos, finja um cochilo para desconvidar brigas noturnas.

Às vezes é preciso mais paciência do que amor.

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[Ouvindo: The Dead Weather - So Far From Your Weapon]

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Tomates Para Sua Ignorância.

Postado por NaNa Caê segunda-feira, 5 de setembro de 2011 01:08:00

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Irei jogar tomates no seu rosto, mesmo que você esteja rindo na hora e por descuido se engasgue, morra. Não há paciência que me faça suportar esse peso, as 15 cestas que me concedeu segurar estão rasgando. Melhor você ensopada de vermelho do que meu tênis sujo. Vou atirar pro ar tudo o que está em minhas mãos nos últimos meses. Vou lançar palavras grotescas em quem tentar me impedir. Garanto que não vai te doer nada, você pode até se alimentar, fazer do que sobrar uma bela macarronada, temperar com esse nutritivo extrato natural e acrescentar pedacinhos do que restou do meu coração. Rale, caso aja necessidade, prepare a receita que bem quiser. Se não conseguir me engolir mais, aconselho que mastigue antes pausadamente, me corte, recorte, tente me montar exatamente como lhe parece necessário, dessa vez com seus cuidados conseguirei te suprir. Aproveite e picote sem querer todos seus dedos, não quero que seja possível um dia você me dar adeus. Sirva a família, brinque de canibalismo-sentimental. Vamos fingir que somos índios, coma a burrice pra ver se assim consegue melhor compreendê-la, sugue o que der pra tirar de mim. Jogue os nervos pras plantas, ossos pros animais. Dos fios da cabeça faça uma peruca como troféu, a penteie com zelo como se um dia eu fosse retornar dos mortos e pedi-la de volta:

- Olá, estou aqui devido meu amor e cabelos.

Enterre o que tiver que esconder debaixo da lama, me faça comer pedras, mas mesmo assim irei jogar tomates no seu rosto, por mais que você esteja chorando, soluçando na hora e por descuido eu te beije.

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[Ouvindo: Deftones - Savory]

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Limões Italianos Para os Olhos

Postado por NaNa Caê quinta-feira, 18 de agosto de 2011 22:46:00

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Escrevo páginas diárias pensando o que você acharia, imagino você dizendo ‘mas que genial’, só passo a folha. Mentalizar não mata ninguém, só corrói por dentro, pelos lados até emagrecer de tantas noites de insônia. Preocupação, saudade, arrependimento, todos os problemas agora são insônia. Tenho dó, dela, da doença. Assim como às vezes tenho de mim e de você, nos mutilando internamente por aí. Por dentro, pelos lados até fingir esquecer. Não há o que esperar, não existe data, apenas ponto de partida, não de chegada, o que diríamos de despedidas, o percurso não existe e a gente fica nesse buraco, meio que encurralado enquanto a água vai subindo e os peixes nos beliscando. De pedacinho em pedacinho vamos sofrendo, sentindo cada ferida que eles criam, abrem novamente e comem mais uma vez. E eles vão se reproduzindo. Comendo-nos de boca cheia feito miolo fofinho de pão. Nós não nos comemos nunca. Só em pensamento, telepatia não é nada sexual, não mostra o quanto se pode arranhar até os poros saltarem e surgirem algumas gotinhas de sangue pra no dia seguinte a gente olhar, lembrar e sorrir. Não tenho marcas suas no meu corpo, nunca tive você em mim, não tenho você em nenhum lugar. Só dentro do aquário que é minha cabeça. Água salgada, cheia de tubarões que você foge e nem sabe nadar. Mergulha tanto que na sua boca já tem o meu gosto, desgosto esse que é se afogar. Pela literatura te construo e consumo, frases e metáforas que nos inflam já que não se sabe definir o quão é amor. Admiração? Você admira quem aguenta distante. Você não imagina noites seguidas com Fernando Pessoa, Caio Fernando Abreu ou Florbela, não os beijando, sentindo tudo o que da pra ver e pegar, ou pelo menos supor. Você não espera ligações de literatos, você simplesmente não os espera bater na sua porta, eles já morreram, você continua ali, mesmo que distante. São listas demais de reprodução compostas por poucas músicas, repetindo sempre os mesmos sonhos e poesias reescritas com palavras diferentes, porém com o mesmo significado. Limões. Nas pálpebras do coração, espero que elas comecem logo a arder e eu seja obrigada a fechar os olhos. Sangue já tem por tanta parte ali. Será que vai parecer esquisito derreter sua imagem e fazer vitamina pra eu não desmaiar, me deixar em pé, pelo menos mais alguns meses enquanto ainda consigo dormir sem você? Quando é só amor e sexo envolvido é mais fácil, mas literatura te deixa mal em momentos em que não deveria ficar. Lembra de trechos da sua vida como se fosse poesia simbolista. Tem todo um pessimismo realista a mais que enquanto você vai atravessando avenidas te da tapinhas por trás, alguns fortes chegando a te jogar em frente a carros em movimento. Não se sabe quantas chances a si mesmo ainda serão dadas, inventa círculos que te prendem na cidade, não deixa chegar perto de aviões, passagens em promoção. ‘Ta caro, dessa vez não da’. A não realização você suporta como se fossem cafunés, apesar de que agora parecem mais ganchos, não durmo por medo desse aço frio entrar de uma só vez no meu cérebro e o congelar feito excesso de sorvete. Coração é quente, mas não aquece o corpo, muito menos revive almas inteiras. Almas realmente morrem ou apenas vão? Não faço sentido com nada meu, meio confuso, mas é bem assim mesmo, não me encaixo nos meus próprios pedaços.

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[Ouvindo: Kate Nash - Foundations]

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Sirva-se

Postado por NaNa Caê quinta-feira, 4 de agosto de 2011 03:46:00

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Ainda existem armadilhas de alumínio em volta do seu cérebro que você coloca no microondas pra cozinhar:

- Está quente amor?

- O sexo ou suas paixões que esconde em baixo da escada e vai lá brincar enquanto estou dormindo?

Fatiadas expirações de ambições já estão à mesa, como filés ao molho de subsequentes alucinações, salgadas demais. 

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[Ouvindo:Portishead - Acid jazz and trip hop]

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Quatro Súbitos

Postado por NaNa Caê segunda-feira, 1 de agosto de 2011 21:47:00

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Eles se despem ondulando desesperos por entre buracos na estrada, tapados com terra-sangue de crianças desnutridas de amor.

Você desafortunada repousa em pianos, como se cada arpejo morresse depois dos toques terríveis de seus dedos.

Eu ainda temo, porque o que passa é sempre literatura que não da pra vender, então as jogo a frente, pra ter onde pisar e não cair em abismos.

Ela pergunta o que estou fazendo respirando, como se fosse tomar por charme o seu próprio ar.

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[Ouvindo: Radiohead - Jigsaw Falling Into Place]

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Sede a Sós

Postado por NaNa Caê quarta-feira, 27 de julho de 2011 03:04:00

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Minha boca dói porque você não soube trazer torneiras pra dentro desse quarto. Pedi por água, qualquer gota de cuspe seu. Continuo meio sedada, sentada, quase caída, melhor dizer descansada do que esgotada no canto em que você escolheu. Melhor dizer, do que sonegar, chorar pra você abrir minha boca selada com esse nada, cola de vazio, zíper de ódio, deixar parecer que está fazendo um grande favor.

Espremo os lábios feito feridas infeccionadas, pra ver se abre algum espaço e dali sai minha língua feito pus. Mas só aparecem ratos, espasmos condizentes de horas a mais de horror, fragmentos esponjosos que confundo com pequenos poros, buchas que ponho sobre a pele, esfregando como se fizesse um som de isopor, rangendo qualquer superfície a ponto de esticar os pêlos, arregaço então mais as mangas, os puxo feito elástico como se esticassem a dor.

Enquanto você inventa personagens e se espelha neles, sou apenas um reflexo dos meus. Não consigo criar mais nada assim calada, não sei imaginar algo sem ler em voz alta, o que acaba secando minha mente. Preciso de algum líquido mais forte, conhaque ou vodka, que preencha de vez os cômodos, infiltre as paredes até que elas se encharquem e me tussam para fora dessa casa.

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[Ouvindo: Cat Power - Fool]

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A Casa Parece Nova Sem Você

Postado por NaNa Caê quarta-feira, 20 de julho de 2011 22:33:00

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Tingi de negro, entre as letras já escuras, como se fosse necessário as esconder, de mim, de você, do nós.

Molhei com leite seus manuscritos feito bolacha maizena como se fosse mais fácil assim os digerir.

Bati sua cabeça no tanque até todo sangue escorrer pelos olhos, enchendo dois baldes azuis e um anil.

Pintei as paredes de vermelho como pediu, pena que não está mais aqui para ver o esforço que fiz por você.

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[Ouvindo: Thiago Pethit – Sweet funny melody]

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Poliedros Conjugados

Postado por NaNa Caê sexta-feira, 8 de julho de 2011 04:00:00

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Sua graça não caminha pela casa
Se move blindada em abstrações
Irrelevantes são as coisas
Da cabeça
Estantes
Livros esquecidos
E todos os outros móveis que continuam no mesmo lugar
Assim como eu
Aqui
Onde a cama ainda é cama
E a TV televisão
Na sua ausência digo seu nome baixo
Não ao teto ou ao quebrado espelho
Mas à porta
Cristalizando ali sua presença
Te vendo em cada prisma
Refletindo
Diagonalmente a múltipla esperança
Numa perplexidade boba e infantil

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[Ouvindo: William Fitzsimmons – You still hurt me]

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Pés de Gelo

Postado por NaNa Caê quinta-feira, 7 de julho de 2011 03:32:00

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No fim das pontas há pedaços de durex pra que elas passem com facilidade entre os pequenos buracos do tênis e mesmo assim continuo a pisar, no cadarço, em pessoas por aí. Esse parece ser o melhor modo de aquecer os pés, em vez do chão frio fico por cima delas, são quentinhas que nem bauru feito na hora.

No fim das honras, em ocasiões especiais, me arrisco a andar descalça sobre as costas de algumas pessoas, principalmente quando você diz que vai dormir comigo, como poderia subir na cama com pés gelados?  Logo cedo eles derreteriam e com o lençol encharcado poderíamos morrer afogados.  

No fim das dobras ainda sou naife, quebro duas ou três costelas em que vou pisando enquanto esquento o calcanhar, elas emborcam para fora como farpas e me arranham. Tenho acordado sempre com vergões, amanhece, finjo que fui eu mesma e ainda penso ‘preciso cortar as unhas’, sendo que o ideal seria o corpo todo, acabar com essa aflição.

No fim das contas não há números, e mesmo que houvesse, eu nunca fui boa em calcular. Só sei que você faz falta, não me pergunte por quanto tempo, são tantas horas seguidas a cada dia.

Quando você não está por perto deslizo pelas ruas com meus pés de gelo fingindo ser um elegante patinador.

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[Ouvindo: Tiê – Só sei dançar com você]

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Cisquinho

Postado por NaNa Caê quarta-feira, 15 de junho de 2011 09:56:00

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Sinto falta de estar cercada apenas pela família diariamente, ou seja, de ficar sozinha. Aquelas longas semanas em que eu tinha que suportar alunos da minha sala, eram apenas crianças, assim como eu, mas na minha cabeça eu sabia que já havia optado por ausentá-los, da minha vida, ou de algo além que ali poderia se prolongar. Não foi uma escolha minha, é claro, crianças não tem poder de decisão durante esses períodos.

Nunca acreditei naquela história ‘tal fulano é acanhado, já nasceu assim’. Ninguém nasce tímido, como poderíamos se já abrimos os olhos, ali pelados, com alguém metendo a mão em nossa bunda e enfiando um pequeno cano pelo nariz? Não sei, talvez esse momento que defina as pessoas, algumas se calam, continuam se esquivando da vida, encolhendo, outras se esgoelam, não são tão frágeis.

Prefiro as pequenas, que tentam se esconder na palma da mão do doutor e talvez porque eu nunca tenha gostado de gritos, em minha casa não era permitido falar acima dos decibéis aceitáveis, estes sempre decididos por minha mãe, não me pergunte como ela os media, ainda tenta controlar.

Trago ainda algumas posses da minha infância, mas o principal é o lago cheio de sapos engolidos que escondo em meu estômago, digo que é alergia, a sal, tempero muito forte, mas no fundo, eu sei que não. Como sou podre por dentro, nem um pássaro azul, até aquele bêbado mulherengo escondia um no peito, deixando o seu ‘blue bird’ sair apenas a noite e eu aqui, procurando insetos. E qualquer autor que eu leia me influencia, qualquer beijo nunca dado seu.

‘Mãe, segunda vou a tarde ao zoológico com o colégio ta?’; ‘não, amanhã mesmo você já viaja com a sua avó, precisa esfriar a cabeça, lá por aquelas bandas do sul, aproveita e vê se ela consegue de uma vez por todas acabar com esses seus piolhos’; e eu então voltava um mês depois quase careca, parecendo um gatinho assustado que foi ao petshop e o tosaram, porque estava com sarna e gatos não gostam de perder seus pêlos, qual seria a diversão na hora de se lamber? Teria minha língua que começar a procurar corpos, que não eram podados, como o meu? Aprendi com o tempo, a perder os cabelos, disfarçar algumas entradas na cabeça, característica tão masculina insistia minha mãe. Arranco meus pêlos semanalmente, fantasio que o motivo disso é satisfazer alguém, pro sexo deslizar melhor.

Certa vez em Salvador, em um mothorhome apertado, enquanto tomava banho de copinho-inox; ‘vó, esquenta água no fogão, a areia está criando uma segunda pele no meu coro cabeludo, acho que é hora de eu me lavar’; enchia copo por copo daquela água quente, fervendo sem que houvesse fogo no piso do banheiro, presa dentro do balde. E enquanto ela escorria por minha cabeça, aqueles fios ficavam loucos, se mexiam como se cada gota que caísse no chão fizesse um som diferente, formando alguma canção dançante, talvez Cash, cantando dentro de uma prisão.

Passei a Gilette, caíram primeiro fiapos, depois nem me lembro por fim o que mais, talvez a orelha, os olhos, já que não enxergo direito, me resta apenas um pouco da audição. E imediatamente eles dançavam pelo meu corpo, escorrendo, sendo levados pela correnteza que surgia por minha pele, fio por fio morrendo no ralo. Assim nasceram minhas duas entradas. Elas nunca mais cresceram completamente. Digo que é algum problema genético, como poderia me justificar com a beleza de um country quase gospel entre meus pés?

Sobre a falta que sinto, ela sempre passa rápido, mas realmente me contraria não sofrer mais sozinha no quarto durante longos finais de semana. Os dias no presente agora parecem que sempre serão mais curtos, os sábados e domingos tomados por algum trabalho. Não há tempo para sofrer como antigamente. E quando choro após assistir tomates verdes fritos, se preocupam, cobram alegria, já que tudo está parcialmente bem na minha vida.

Quero chorar por qualquer música ou história imbecil, sem haver a necessidade de desgraças para se contar. Deixe-as apenas na minha cabeça, não preciso mais de pessimismos no meu dia-a-dia. O que quero às vezes é ser apenas massa, inculta, burrice emparelhada com algum pesar inventado.

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[Ouvindo- The Dead Weather - Bone House]

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Asfalto-Piscina

Postado por NaNa Caê segunda-feira, 6 de junho de 2011 21:14:00

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Arranco pedaços da minha pele como se eles não precisassem de mim, em poucas horas começarão a se decompor no chão. Arranco tanta gente, roupas, tecidos velhos costurados com linha de anzol, puxo com firmeza os braços que não me interessam mais, debaixo de sol, chuva ou tempestades em copo d’água. À noite finjo que durmo, fecho os olhos, deixo que escorram todas as lágrimas criadas durante o passar do dia. Quando acordo, torço meu travesseiro em um bule, das lágrimas faço meu café, não te ofereço, nunca, até nisso sou egoísta, mesmo tendo sido você quem me fez chorar. Compro amendoins e cocadas pra te suprir daqueles vários outros modos que não consigo, não sei, mas acho que oferecendo comida e dinheiro, eu possa melhorar no que sou. E eu me contentaria apenas em pensar, não conversar com ninguém, exceto com você, contar o que sempre fica girando na minha cabeça, me deixando tonta, fazendo vomitar naquelas ruas tão limpas, asfalto feito de azulejo de piscina, em que deito, brinco de me afogar, enquanto engulo alguns litros de piche, azul.

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[Ouvindo: Chairlift - Planet Health]

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Cheque as Portas, Prepare o Mate.

Postado por NaNa Caê terça-feira, 31 de maio de 2011 12:17:00

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Alimento diversos desesperos que incluem desde abrir pastas com fotos antigas até esbarrar sem querer em você na lanchonete, mesmo que não exista a possibilidade de haver sequer uma imagem sua ali e eu esteja ainda no quarto, me preparando pra sair, de olhos fechados, já que os óculos não resolvem mais.

E toda vez torço para que seu salgado caia, o refrigerante molhe sua roupa, talvez assim lhe mostrando como forma de algum sinal-moderno-urbano que em nenhum momento te esqueci.

Eu não preciso procurar seus olhos, mãos e cabelos escorridos, não sei se é Deus, Buda, ou Maomé brincando de coincidências com nossas peças, mas elas sempre tendem a se entreolhar, antes de uma comer a outra e não podermos mais continuar no mesmo tabuleiro.

Cheque, todas as portas e janelas. Abra cada fresta sem medo de o jogo virar.

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[Ouvindo: Radiohead - Knives Out]

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Corte e Costura do Coração

Postado por NaNa Caê terça-feira, 17 de maio de 2011 02:16:00

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No teto você dança uma canção distraída, adormece pelas quatro pontas do quarto, faz das cortinas edredom.

Tenho medo de entrar na sua casa, ficar tonta, não saber acompanhar seus passos, girar de cima até o chão.

Te procuro então por aqui em tantos textos, rabisco diariamente umas quatrocentos imagens nossas através de palavras.

Ainda me esforço para emendar o cansado órgão com versos pesados e retalhos do que restou da sua quase despedida.

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[Ouvindo: Elliot Smith - Cupid's Trick]

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Hora de Desligar

Postado por NaNa Caê domingo, 15 de maio de 2011 19:52:00

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Sonhei que eu podia dormir sem ter que me justificar ou precisar explicar sobre minhas olheiras.

Peguei as suas metáforas para tentar colorir o chão, porque você disse que era melhor assim, não pisar em tons escuros tendo o céu tão azul, já bastavam os meus contrastes de pele, cabelo e amor.

Você me obrigou a fumar os filtros, de todos os cigarros, um por um. Eu engoli as bitucas e isqueiros como amostra de rancor.

E eu só me perguntava quando que a gente tinha criado intimidade, nas primeiras oito horas seguidas de conversa ou nas mensagens oferecendo aquilo que nem era nosso?

Não entendia do que você reclamava, de quem, se eu ainda estava ali, calada, ouvindo sobre suas hiperbólicas abstrações.

O grande problema é que eu sempre sofri muito, por tudo, as vezes até mesmo por estar bastante feliz.

Como era complicado encerrar algumas ligações, brincar de contar até três pra dizer logo adeus.

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[Ouvindo: White Lies - From the stars]

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casal de velinhas

Postado por NaNa Caê quarta-feira, 11 de maio de 2011 15:23:00

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Dois anos de drama, obrigada por quem acompanha

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Ainda Aguardo Sua Carta

Postado por NaNa Caê 09:00:00

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Recebo as correspondências, quero cair de costas, de lado, para qualquer canto desde que minha cabeça sofra o baque em alguma quina, rasgue ao meio, suje com gosto o azulejo branco irritante.

Recebo as correspondências e não há sequer uma carta sua, contas, contas e mais outras dívidas.

Abro meu e-mail, inúmeros convites, para festas, novas amizades, promoções e um sem assunto, seu.

Tenho pavor da minha caixa de entrada, acho que sempre trará algo ruim, um possível término, uma explicação do fim.

Recebo as correspondências, mas nunca você na minha casa.

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[Ouvindo: Ana Cañas - Esconderijo]

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Parei de Fumar

Postado por NaNa Caê quinta-feira, 14 de abril de 2011 23:11:00

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Converso com você sempre durante períodos curtos, eu tento, procuro diversas formas de dar continuidade ao assunto, mas não consigo. Sabe aquela sem gracesa de encontrar um professor fora do ambiente que geralmente convive com ele, ou um colega de trabalho? Eu tenho isso, constantemente com você. O problema é que não sei de onde nos conhecemos, em qual tempo e local nos portamos normalmente.

Acredito que desde a sua barriga me sentia um pouco sufocada, tenho certa vontade de te perguntar se quando nasci o cordão umbilical estava em volta do meu pescoço, porque as vezes ainda tenho essa sensação, e com certeza deve, é necessário que haja uma explicação além das nossas diversidades de costumes e opções de vida.

Tenho ainda uma memória de quando fomos felizes juntas por alguns minutos, eu digo estando uma ao lado da outra. Corríamos em um parque no sul, durante aquelas nossas longas viagens de mais ou menos uma década atrás. Parecia-me bem divertido o momento, as folhas caindo e como sempre eu fingindo algo, colocava todas bem próximas da minha boca, a mandíbula subia e abaixava, simulando um mastigar engraçadinho, quase que falso delas.

Você ria, me jogava no chão, facilitava o andar da situação, encontrava mais folhas secas por ali, até que realmente comi uma de verdade, você irritada me deu um tapa na mão. Não doeu, eu sei, eu recordo bem aquele momento, mas parece que depois daquilo socos foram aparecendo, aumentando e as minhas mentiras também.

Eu me esforço diariamente pra achar alguma esperança, algum aniversário em que ganhei um presente que me deixou feliz além do interesse em si pelo objeto recebido, que nos empurrou para mais perto, acidentalmente nos fez encostar nossas mãos.

Porque as vezes tenho realmente algumas novidades boas pra te contar, porém como sempre no decorrer dos anos é colocado em primeiro plano apenas o seu dinheiro, ao lado da minha negação.

Então me calo.

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[ouvindo: metric - butcher]

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Sétimo Céu

Postado por NaNa Caê terça-feira, 12 de abril de 2011 11:01:00

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Digo que vou dormir, não consigo. Lembro da conversa de dois minutos atrás. Relembro o diálogo que quase criei em minha mente, que evitei falar. E então fico rindo, enquanto você pensa que diz tolices, engulo minhas babaquices de amor. Fico segurando, lutando pra não soltar nenhuma muito grande, exagerada. Desligo o telefone, corro pra primeira folha que encontro pela frente, vomito as palavras em cima do papel.

Fico por horas escrevendo, como se eu me perdesse em um dia muito longo com você, igual ás nossas constantes conversas que levam horas. Você sempre fica calada em minha cabeça, inverto os costumes, dessa vez sou eu quem falo, e digo verdades demais, esperanças demais, promessas as quais eu queria muito conseguir cumprir. E elas não acontecem por que simplesmente sequer existem, não saem da minha cabeça, no máximo escorrem da caneta.

Me desculpe, eu sei, não preciso que jogue isso um dia nas minhas costas, sim, nas costas, na cara não, não imagino você sendo assim tão bruta, e se fosse minutos depois me pediria perdão, ofereceria alguns beijos acompanhados talvez de chá, melhor se fosse capuccino, mas eu aceitaria toda feliz até água quente de você.

Tento compreender qual foi o momento em que eu disse pra você ir embora, porque me desculpe, mas não consigo lembrar disso. Só tenho em minha cabeça os poemas que te escrevi, não que você os tenha lido, não que fosse necessário mostrar algum, não, eles ficam mais sinceros apenas salvos no meu rascunho do celular.

Então torço para que me roubem o celular, que levem esses poemas e junto o seu número. Que essa dor passe para quem quiser se interessar em sofrer esses desajustes sentimentais. É, são desajustes, eu me forço a assumir isso, a aceitar, tenho que pensar que são problemas, que por me fazerem sentir insegura não são nada legais pra minha vida, pro meu desenvolvimento físico e mental.

Mas então me manda uma mensagem, bastante vaga, às vezes apenas dizendo que nela nem existe um conteúdo ao certo, algo a se dizer de profundo, apenas um pedido, que eu não me esqueça de você. Eu sorrio, te ligo, escrevo enquanto escuto sua voz, não que eu não preste atenção em nossas conversas, por favor, não pense assim, não comece com o seu pessimismo, fico escrevendo o que ainda não falo, por enquanto, amanhã talvez eu diga, quem sabe.

Tudo o que nego, não esqueço, está em meu caderno, o chamo de sétimo céu, idiota, infantil, entretanto você está por completo ali, não é um moleskine burguês como o seu, composto por metáforas sobre gatos em gavetas, mas lembra um tilibra, pequenininho com bastante amor, porém sem capa devo confessar.

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[ouvindo: cocorosie - lyla]

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Charlyn Marie Se Ausente Agora Por Favor

Postado por NaNa Caê sexta-feira, 25 de março de 2011 22:52:00

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E você mais uma vez some, não de todos, apenas de mim. Vejo seus rastros, não sigo, finjo que tenho mais o que fazer. Então desapareço, deixo pelo caminho estragos, dos quais espero sinceramente que ninguém vá te socorrer.

Você volta, manda sinais em forma de indiretas, mensagens enviadas por engano para a pessoa errada, no caso sempre eu, alguma roupa que esqueceu na minha casa, os cintos que não te passei, os livros que ainda não emprestei, seu desodorante acabou, precisa um pouquinho do meu, sua água de tão quente evaporou, precisa tomar banho, aqui, mas só se for comigo, no chuveiro ou na piscina, até na bacia, copinho de café ou colher.

Eu não suporto, não me envolvo, já me enrolei demais, nos seus braços, toalhas com cheiro de shampoo, condicionador, sabonete líquido de morango, talco de bebê, derramei em sua cama de pirraça todo licor.

Você pede, não espera que eu responda, logo concede, por mim, por deus e todos nós. Divide as posses e sentimentos como potinhos com algodão, água e feijão, esquece que mesmo se fossem assim cresceriam no máximo centímetros e nunca iríamos transplantar esse verde dali, não valeria a pena amadurecer, trocar todo o tom.

Eu tento dividir a saudade em partes, me sentir mal apenas durante as manhãs, dar desculpas como insônia, péssimo humor, mas não sei ser justa, não há igualdade em mim, só egoísmo e um pouquinho de rancor.

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[Ouvindo: cat power - metal heart]

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Postado por NaNa Caê quarta-feira, 23 de março de 2011 21:41:00

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Minha vida não passa de uma metáfora malquista

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Mudas

Postado por NaNa Caê 21:40:00

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Me traga todos os dias
Plantas jovens
Mudas de margaridas
Talvez alecrins

Cheire o espaço
Se quiser finjo
Que o perfume vem de ti

Me beije e adormeça
Mudas para perto de mim

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[ouvindo: radiohead - separator]

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Postado por NaNa Caê 21:39:00

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Estou cultivando amor juntamente aos fios do meu cabelo, me disseram que assim seria mais fácil. Não me assustam as proporções exageradas quando paro na frente do espelho, estão crescendo, você vai ver, mesmo me cegando durante vários momentos, os deixo ali, quase me tapando a visão. E quando sinto as pontas batendo em meus olhos, jogo a cabeça para a direita, deixo a saudade espremidinha em um pequeno espaço, aquecida, envolvida nos tufos de cabelo.

Não entendo sobre minhas caras, aquelas que você insiste em dizer que fiz. Não compreendo sequer sobre a distância da sua cama para o abajur, eu não estou aí.

Deixe então que eu pratique diariamente com você meus dramas, o que mais, além disso, eu poderia fazer?

Continuo lendo seu único email até conseguir dormir. E mesmo que o poema não seja seu, encarno o personagem, te coloco bem ao meu lado, como em todas as noites deveria ser.

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[Ouvindo: radiohead - little by little]

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Postado por NaNa Caê 21:39:00

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Você já conhece meus dramas e desastres
Tateou cada contorno da minha pele
Desde as incontáveis pintas perdidas
Até a pequena cicatriz
Reconheceu meus primeiros fios brancos de impaciência
Antes mesmo que eu soubesse que já podiam existir
Deu-me alimento para que eu sobrevivesse por todo esse tempo
Brincando de me esconder
Presa no seu coração

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[ouvindo: radiohead - codex]

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Postado por NaNa Caê 21:37:00

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Na ausência de fitinhas k7 gravo voz e violão desafinados em formato mp3. Não envio, arquivo, já existe uma pasta com seu nome em meu computador. Em vez de flores de plástico acho que levarei um pequeno hd, com todas as cartas-textos e áudios que sempre apenas quase te mandei.

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[Ouvindo: radiohead - lotus flower]

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Desisto de Você e Dos Seus Sumiços

Postado por NaNa Caê sábado, 12 de março de 2011 22:25:00

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A pessoa tem a faca e o queijo na mão, ela escolhe cortar meu coração.

A pessoa tem a faca, o queijo e a minha vida na mão, mas não me oferece nem uma artéria pulmonar podre pelo seu cigarro.

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[Ouvindo: radiohead - high and dry]

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Postado por NaNa Caê sexta-feira, 11 de março de 2011 03:48:00

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Sinto os traços
Passo a passo com as mãos

Minto que disfarço
Estou melhor assim

Finjo que durmo
Dou boa noite
Pra não implorar perdão

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[Ouvindo: radiohead - separator]

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Não Me Mostre o Tempo

Postado por NaNa Caê quarta-feira, 9 de março de 2011 07:16:00

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Eu não tenho como pagar o que me cobra, não possuo estrutura sequer para te indicar onde encontrar a solução.

E não são meus problemas morais que te afastaram de mim, foi o tempo. Acho que ele determinou o fim.

Eu não encontro mais formas de te levar comigo, não posso te jogar em um pedaço de madeira com rodas e simplesmente te empurrar.

Eu já não encontro forças, acho que perdi isso na sétima ou oitava briga quando cantei todas músicas tristes, fumei três maços seguidos desejando estourar pelo menos um pulmão.

Sinto que já não sei distinguir meu amor do seu ódio, preciso que me avise quando devo partir.

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[Ouvindo: cat power - fool]

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Aguardo

Postado por NaNa Caê 07:00:00

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Eu espero que entre na minha casa de fininho, invada o corredor e passe pela porta do meu quarto sem avisar.

Eu quero que você fique, não comigo, mas parada, sorrindo, como sempre faz quando me esforço para melhorar meu humor.

Eu preciso te olhar de cima abaixo, calcular todo tempo que seu corpo vai aguentar ao meu lado, supor a paciência que você guarda para compreender de vez meu amor.

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[Ouvindo: cat power - metal heart]

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Batendo os Dentes

Postado por NaNa Caê 06:53:00

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Eu tenho passado os dias planejando, algo que não vejo o que é. Tenho evitado os momentos ilusórios para que não fujam, se esgueirem atrás da realidade.

E não há calma que sustente a minha voz quando converso com você, oscilações de esperas e amor. Quedas durante o dia, fraquejo de tom.

Não sei se são rachaduras ou frestas que abri com os dentes, festas em que tentei sorrir. Para cada mandíbula um latejo.

Não sei se é você que vai chegar ou eu que vou partir.

Colocando no bolso todas indiretas como se elas esquentassem os músculos, de cada perna, para caminhar até o local que você apontou.

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[Ouvindo: Cat Power - I don't blame you]

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Platonismo

Postado por NaNa Caê sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011 02:42:00

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Platão o que fez comigo, chegou como amigo convidando para um banquete e no fim da noite levou em um prato meu coração?

Platão você disse que queria só minhas unhas ruídas, nada tão importante, no máximo minhas mãos.

E agora como fico nesse quarto, de peito aberto, apenas com outros órgãos, por que não levou meus rins ou pulmões?

Platão eu me sinto vazia, assim medindo palavras, perdendo as contas, enfiando a cabeça na pia, tentando afogar a imagem do que deixou pelo meu corpo, cada corte e vergão.

Platão eu não quero mais correr pelas vias, cruzar aqueles carros, estranhos parados e no final perceber que ainda não acordei.

Platão apenas me explique, não sei por que a mala está pronta, se não consigo nem sair da cama, colocar os pés frios no chão.

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[Ouvindo: placebo - blind]

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A Troca II

Postado por NaNa Caê quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011 02:11:00

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Os dias não funcionam assim, eu sei que te amei e você ainda gosta de mim.

Os dias não funcionam assim, você com lembranças, me mandando sempre energias boas e esquecendo tudo aos poucos.

Por que eu acho que preciso bem mais que um ano de solidão pra destruir tudo que já construí, aqui, dentro de mim.

Não há como deixar pra lá, eu que preciso ir.

E isso não vai durar para sempre, prometo, nada consegue ser tão longo assim.

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[Ouvindo: Maisa]

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A Troca

Postado por NaNa Caê 02:08:00

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A única coisa mais impossível do que ficar agora é abandonar.

Destruição é presente, oportunidade para iniciar corretamente onde se errou.

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[Ouvindo: Maisa]

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Sofra Mais Por Favor

Postado por NaNa Caê segunda-feira, 10 de janeiro de 2011 04:10:00

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Espero que um dia consiga ver a força que há em você, além da beleza, todas as palavras duras, que joga na cara da vida e ela insiste em aceitar, recolher, guardar e depois partir.

Suas verdades são doloridas, acho que assim como sua vida, que culpa tem você de existir?

Não sei ao certo o que me agrada, as brigas posteriormente com mancadas, dos seus passos tortos que te fazem estranha, te fazem perdida, mudam a rota do caminho sem você perceber e no fim é só se iludir.

Não sei o que relata, qual parte é mentira, qual é imaginação, comedida, ou exagero de atuação.

E se tudo que escreve é com inspiração no sofrer, me desculpe, mas não acho que merece então ser feliz.

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[Ouvindo: Yeah Yeah Yeahs - Poor Song]

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Pare de Ser

Postado por NaNa Caê 03:50:00

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Quando eu vou poder voltar
Quando vou poder parar de só imaginar

E a esperança está nos homens
A fé também
Eu não confio neles
Eu não confiaria nem em mim

Me diga o que preciso fazer
Me diga o que preciso dizer pra esquecer
Isso é errado
Mas preferia não ter ficado aqui

Me diga o que preciso fazer
Me diga quem preciso socorrer
A mim ou a você

Isso não é água
Correnteza
Não corrompa o peso
E é ele
Que te embala
Leva
Te joga pra mim

Isso não é água
Com certeza
É impuro
Jogar com você tão tonto assim
Vá dormir
Deite
Amanhã já esqueceremos o que é sentir

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[Ouvindo: Yeah Yeah Yeahs - Zero]

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Acabe Com o Melhor

Postado por NaNa Caê 03:38:00

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Não é assim que você vai fazer tudo explodir, é preciso planejar, imaginar, decidir o que realmente quer.

Pense no estrago, calcule os gastos, me engane, só depois se aproxime.
Não é possível fazer isso estando você ainda tão perto de mim.

Cubra os olhos, por que duvido que irá agüentar, cubra as notas, disfarce nossa canção.

Não guarde as mágoas, queime, deixe tudo evaporar, leve meu rosto, sem tocar me dê um beijo, isso me parece impossível, isso não vai parar.

Eu sei que você consegue, eu sinto que merece, todos precisamos superar.

E o tempo vai, os problemas também, os novos surgem, os velhos somem
E o tempo vai, a gente insiste, em ficar, perto, mas não junto.

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[Ouvindo: Yeah Yeah Yeahs - Poor Song]

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Espera

Postado por NaNa Caê 03:12:00

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Nem toda piada é um drama, nem todo drama é tristeza, pode ser comédia, deve ser articulação para te envolver.

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[Ouvindo: Placebo - Meds]

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